Conheça a missão Lucy, da Nasa, que busca ‘fósseis’ no espaço
A sonda Lucy vai para a órbita de Júpiter para estudar dois grupos de asteroides que correm à frente e atrás do gigante gasoso. Esses grupos são chamados de “enxame”.
Cientistas da agência espacial norte-americana (Nasa) dizem que os objetos são sobras da formação dos planetas.
Assim, esses “cavalos de Tróia”, como são conhecidos, contêm pistas importantes sobre a evolução inicial do Sistema Solar.
A decolagem, a bordo de um foguete Atlas-V da Estação da Força Espacial do Cabo Canaveral, foi realizada conforme programado, na manhã de sábado.
A Nasa comprometeu inicialmente U$ 981 milhões (cerca de R$ 5,3 bilhões), ao longo de 12 anos, para a missão. Nesse momento, a sonda Lucy visitará sete “cavalos de Tróia”.
Existe um famoso fóssil humano da África que foi apelidado de Lucy, que nos ensinou muito sobre a origem de nossa espécie.
A nova missão da Nasa tem inspiração direta nessa história, com a diferença que os fósseis que a nave procura estão a centenas de milhões de quilômetros da Terra, circundando o Sol em formação com Júpiter.
“Os asteroides seguem Júpiter em sua órbita em cerca de 60 grau”, explicou Hal Levison, o principal pesquisador do projeto Lucy e do Southwest Research Institute (SwRI) em Boulder, no Colorado.
“Eles são mantidos dessa forma pelo efeito gravitacional de Júpiter e do Sol. E se um objeto é colocado lá no início da história do Sistema Solar, ele fica estável para sempre. Então, essas coisas são realmente os fósseis dos quais os planetas se formaram,” disse Levison, em uma conferência de imprensa.
Lucy usará seus instrumentos para estudar objetos do tamanho de uma cidade (alguns são até maiores), detalhando a forma, estrutura, características de superfície, composição e temperatura.
Se os asteroides forem compostos pelo mesmos tipos de materiais que as luas de Júpiter, isso sugere que eles se formaram à mesma distância do Sol que o planeta gigante. Mas essa não é a expectativa.
“Se, por exemplo, eles são feitos do tipo que vemos muito mais longe, no local que chamamos de Cinturão de Kuiper, então essa informação nos diz que eles podem ter se formado lá e então, em algum ponto, foram puxados para dentro”, diz Carly Howett., cientista da missão SwRI.
“Esta missão é um teste de nossos modelos. Temos a teoria de que houve um grande rearranjo de objetos no início da história do Sistema Solar, quando alguns elementos gravitacionalmente foram jogados para fora e outros foram jogados para dentro. As evidências apontam para essa teoria, como bolas de bilhar, mas poderemos verificar se ela está correta”, disse ela à BBC News.
O plano da missão é o resultado de alguns cálculos de navegação extraordinários.
Pesquisadores do Sistema Solar descobriram que, se a sonda retornar periodicamente para fazer um sobrevoo da Terra, ela pode usar um efeito de estilingue para visitar os dois asteroides.
O projeto prevê que Lucy possa encontrar os asteroides em 2027 ou 2028, seguido por um tour por outro agrupamento em 2033. A distância total da viagem é de mais de 6 bilhões de quilômetros.
Previsão de chegar aos asteroides que lideram o ‘enxame’:
Euribates e Queta (lua) – agosto de 2027
Polymele – setembro de 2027
Leucus – abril de 2028
Orus – novembro de 2028
Previsão para chegar os asteroides à direita:
Pátroclo e Menoécio – março de 2033
Asteroide da cintura principal:
Donald Johanson – abril de 2025
“O que é incrível sobre essa trajetória é que podemos continuar a fazer loops através dos enxames, enquanto a espaçonave estiver saudável. E assim, após o encontro final com Pátroclo e Menoetius, planejamos propor à Nasa uma missão estendida para explorar mais asteroides”, diz Coralie Adam, da KinetX Aerospace, que está fornecendo suporte de navegação para o projeto.
Embora focada nos asteroides, Lucy também visitará um tipo diferente de astro no caminho para a órbita de Júpiter: um objeto chamado Donald Johanson, que tem esse nome por conta de uma homenagem ao paleoantropólogo que descobriu o esqueleto fóssil humano etíope, em 1974.
A espaçonave compartilha uma grande herança de engenharia com a missão New Horizon, da Nasa, que fez o primeiro — e até agora o único — sobrevoo de Plutão em 2015.
Lucy traz versões atualizadas de alguns dos principais instrumentos da New Horizons.
Uma grande diferença é a fonte de alimentação. Enquanto a sonda Plutão extrai sua energia de uma bateria nuclear, Lucy está voando com dois painéis solares em forma de leque.
Essas “asas” são enormes, com mais de sete metros de diâmetro. Elas precisam ser grandes para gerar eletricidade suficiente para conduzir os sistemas da espaçonave pela região menos iluminada da órbita de Júpiter.
“Quando estamos perto da Terra, essas asas têm cerca de 18 mil watts de potência. Isso seria equivalente a abastecer de energia a minha casa e a de alguns vizinhos”, explicou Katie Oakman, da empresa fabricante de espaçonaves Lockheed Martin.
“No entanto, quando levamos Lucy para os asteroides de Júpiter, temos apenas cerca de 500 watts de potência. Isso acenderia apenas algumas lâmpadas e não seria o suficiente para ligar meu micro-ondas pela manhã para esquentar o café”, explica.
Felizmente, os instrumentos de Lucy precisam de apenas 82 watts para fazer seu trabalho.
Lucy representa outra etapa do que está se revelando uma era de ouro para o estudo de asteroides pela Nasa.
A missão Osiris-Rex, também da agência americana, está voltando para casa no momento, após coletar amostras da superfície de um objeto conhecido como Bennu.
No próximo ano, a Nasa lançará a espaçonave Psyche para chegar a um asteroide de metal, também chamado de Psyche.
“É realmente o grande momento dos asteroides e espero um salto no entendimento que temos sobre eles”, explica Thomas Zurbuchen, administrador associado de ciências.
“Para entender qualquer população, precisamos de várias medições de diferentes tipos de asteroides. É exatamente o que estamos fazendo”, diz.
“Asteroides podem ameaçar a Terra e em novembro lançaremos um experimento de colisão chamado Dart. Ele será seguido pela missão Hera, da Europa, e ajudará a descobrir se podemos dar impulso e empurrar a um objeto no espaço”, disse Zurbuchen à BBC News.
Fonte: BBC