Cura que vem da terra: Farmácia Viva do DF produz remédio natural à base de alecrim-pimenta

Projeto pioneiro em Brasília oferece fitoterápicos gratuitos à população e aposta na ciência e no Cerrado como aliados da saúde

Em pleno Cerrado brasiliense, uma iniciativa silenciosa e poderosa vem promovendo saúde por meio da natureza: a Farmácia Viva, projeto que já produziu mais de 620 mil medicamentos fitoterápicos ao longo de três décadas. Um dos destaques dessa rede é a tintura de alecrim-pimenta, único medicamento natural para dor de garganta registrado e distribuído gratuitamente pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF).

Produzida a partir da planta Lippia origanoides, conhecida como alecrim-pimenta, a tintura está disponível em 25 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do DF. O remédio é indicado como antisséptico orofaríngeo e pode ser diluído em água para gargarejos e bochechos — método natural e eficaz para tratar irritações e inflamações na garganta.

O projeto é coordenado pelo Núcleo de Farmácia Viva, localizado no Riacho Fundo, e conta com o cultivo em áreas como a Fazenda Modelo da Papuda e a unidade de Planaltina. Em 2024, foram colhidos 105 kg da planta e produzidas mais de 4 mil unidades da tintura. A previsão para 2025 é alcançar o maior volume desde o início da produção: 4.800 unidades.

Segundo Nilton Neto, chefe do núcleo, a capital federal é referência nacional na produção de fitoterápicos. “O alecrim-pimenta é uma planta brasileira adaptada ao Cerrado, estudada e validada cientificamente. Isso nos permite transformar um recurso natural em solução de saúde pública, com reconhecimento da Anvisa”, destaca.

Além de promover saúde, o projeto integra ações de ressocialização: parte do cultivo do alecrim-pimenta é feito por internos do sistema penitenciário, na Papuda, com apoio da Funap. Para cada dois dias trabalhados no plantio e trato da planta, um dia é reduzido da pena. Um modelo de reintegração que une agricultura, ciência e dignidade.

A farmacêutica Dayane Rodrigues, que atua na unidade do Riacho Fundo, confirma os resultados práticos do medicamento. “Tenho pacientes que voltam para pedir. Funciona muito bem. Quando usei durante uma gripe forte, senti alívio em poucos dias”, relata. A tintura, segundo ela, tem ótima aceitação e rápida resposta do organismo.

O processo de fabricação envolve a secagem das folhas, extração com etanol em percolador e envase com orientações detalhadas. Cada frasco acompanha um QR Code que direciona o usuário a um material explicativo com modo de uso, segurança e cuidados.

A planta, originalmente do semiárido nordestino, foi introduzida no cultivo do DF ainda nos anos 1990, pelo professor e pesquisador Francisco José de Abreu Matos, idealizador das Farmácias Vivas. Sua proposta de transformar saberes populares em ciência aplicada à saúde pública floresce até hoje no Cerrado.

Mais do que um medicamento, a Farmácia Viva é um símbolo da valorização do bioma, da ciência nacional e do cuidado humanizado. Um exemplo de que a cura pode, literalmente, brotar do chão.

De: Redação / Fonte: Agência Brasília / Fotos: Lúcio Bernardo Jr.