Autonomia para fazer o bem sem olhar a quem e sem esperar pelo momento perfeito. A professora e mestre em Desenvolvimento Humano Andrea Monteiro, 54 anos, residente de Santa Catarina, sabe bem o que é isso.

Ela é uma daquelas pessoas que orgulham o nosso país – e por que não o mundo? – Sensível para enxergar as potências humanas de cada ser, ela consegue unir cidadãos engajados em ajudar quem encontra-se à margem dos privilégios sociais.

Hoje, diretora da ONG Autonomia, ela consegue proporcionar qualidade de vida para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mães-solo, pessoas com deficiência e tantas outras.

“Não vejo mais corpo, vejo almas caminhando numa força extraordinária que nenhum físico suporta”, diz Andrea ao se referir à força daqueles que cuidam de pessoas com necessidades especiais. Para ela, a união é o caminho para ajudar quem precisa de apoio e transformar a sociedade.

Consciente do seu papel, Andrea guia sua vida com foco no coletivo.

“Não consigo ver o mundo só para um, vejo para todos. Infelizmente, a sociedade criou microgrupos, cada um defendendo uma causa e ninguém consegue dialogar, cada grupo se torna um individual e não se relaciona. Precisamos ser uma sociedade com voz uníssona, o direito é de todos, somos todos filhos da Terra!”, ressalta.

Artistas Autistas

Andrea mantém o projeto “Artistas Autistas”, que visa descobrir e direcionar os talentos artísticos emergentes de pessoas com o espectro. Através da produção e divulgação desses artistas, o projeto vem surtindo imenso efeito na sociedade, aumentando sua visibilidade e valorização.

Mãe de um menino adotivo, indígena, de 2 anos, Andrea não possui relação familiar com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas abraçou a missão de buscar melhorias no acesso à educação e qualidade de vida para pessoas com o diagnóstico.

“Talvez eu tenha um pouco desse espectro (autista). Entendi perfeitamente o que é quando comecei a entrar em contato com pessoas diagnosticadas. Pensei que eles veem a vida como eu vejo. O silêncio, a observação, o hiperfoco… senti uma afinidade, só que sou uma adulta desenvolvida que, com certeza, tem muito mais afinidades”, pontua Andrea.

Atenta a tudo que acontece ao seu redor, um detalhe não passou despercebido pelo olhar da professora. Ela conta que ao entrar em contato com uma comunidade indígena, quando tinha 22 anos, percebeu semelhanças entre sua vida, os indígenas e as pessoas com TEA. “Ambos têm a linguagem do silêncio, são observadores, têm um nível de concentração e contemplação. E eu vejo tudo isso em mim”, explica.

Humor Azul – o lado engraçado do autismo

Juntamente com o escritor Rodrigo Tramonte, diagnosticado com TEA, Andrea produziu em 2015 o livro “Humor Azul – o lado engraçado do autismo”, que ganhou a admiração de famosos como o escritor e cartunista Maurício de Sousa.

Pelo seu conteúdo didático, o livro se tornou um “best seller” e é recomendado às escolas e famílias por médicos considerados referências no assunto. Tamanha aceitação, rendeu um belo fruto: o livro vai virar filme.

“O sonho do escritor Rodrigo era conhecer o Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica”, revela a professora. Para quem não sabe, em 2003 a Turma da Mônica apresentou André, personagem que chegou às histórias em quadrinhos para representar as pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

“Entramos em contato com Maurício para apresentar sugestões para o personagem comunicar melhor o que é o autismo. Simplesmente, ele falou que precisava nos ouvir. Foi um papo maravilhoso entre nós e a equipe dele. O Maurício é incrível, tem muita escuta, é um cidadão brasileiro de valor, que merece muito respeito”, relembra a professora sobre os momentos de encontro que teve com o cartunista.

O que é Transtorno do Espectro Autista

O  Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve características que apresentam-se de formas diferentes entre os indivíduos diagnosticados. Caracteriza-se pela dificuldade de comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos, dificuldade de socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Tais ocorrências podem apresentar-se em gradação que vai da mais leve à mais grave.

O Transtorno do Espectro Autista apresenta sinais e sintomas e o seu diagnóstico leva em conta os critérios estabelecidos por DSM–IV (Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS), o comprometimento e o histórico de saúde do paciente.

Assim, o diagnóstico do TEA é essencialmente clínico. Comumente, o transtorno se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que coordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias.

O tratamento varia de acordo com cada indivíduo. Cada um precisa receber um tipo de acompanhamento específico e individualizado, que exige a participação dos pais, dos familiares e de uma equipe profissional multidisciplinar para que, juntos, contribuam para a reabilitação da pessoa.

No mundo, uma em cada 110 pessoas é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista, segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos. Dessa forma, a estimativa para o Brasil é que existam cerca de 2 milhões de pessoas com o diagnóstico de TEA. Elas têm algumas limitações características, mas um potencial incrível para ser desenvolvido.

Fonte: Sónoticiaboa

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