Quando a Infância Encontra o Abuso e o Suicídio, Precisamos Romper o Tabu e Agir

Há assuntos delicados que, mesmo difíceis de abordar, são cruciais para o bem-estar das crianças e adolescentes. Um desses temas é o suicídio infantil, que tem se tornado cada vez mais alarmante. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e tem crescido entre crianças de 5 a 14 anos no Brasil. Entretanto, não são os números que importam mais – o que realmente importa é o olhar atento que precisamos ter sobre cada criança.

Muitas crianças são abusadas sexualmente sem sequer entender o que estão passando. Mais tarde, ao descobrirem que foram vítimas de abuso, esse conhecimento pode ser devastador. A dor emocional e a sensação de impotência podem ser tão profundas que algumas crianças veem o suicídio como a única saída. Para mim, pouco importa quantos casos existem: se uma única criança chega a questionar o valor de sua própria vida, é um sinal de que não cumprimos nossa obrigação de protegê-la.

A violência, o abuso e a falta de apoio emocional são, infelizmente, realidades que cercam muitas dessas crianças. É fundamental rompermos o tabu sobre o suicídio infantil e falarmos abertamente sobre o impacto devastador que essas experiências têm na saúde mental de nossos pequenos. O silêncio em torno do tema contribui para a solidão e o desespero que eles podem sentir. Abordar o assunto com responsabilidade e acolhimento é a chave para criar ambientes seguros, onde crianças e adolescentes possam expressar seus sentimentos e receber o apoio necessário.

É importante compreender que o suicídio é um problema multifatorial. Fatores como histórico familiar, abuso sexual, violência, bullying e a influência negativa das redes sociais podem ser gatilhos para o desenvolvimento de pensamentos suicidas. As crianças e adolescentes estão vulneráveis, e cabe a nós, como sociedade, oferecer redes de apoio seguras. A família, a escola e as instituições de saúde devem trabalhar juntas para identificar sinais de alerta, como isolamento, perda de interesse em atividades, mudanças no sono e no apetite, além de automutilação.

O suicídio infantil não pode ser tratado como um tema distante ou isolado. Ele é uma questão de saúde pública e, mais do que isso, uma questão humana. Precisamos ensinar nossas crianças a lidar com suas emoções desde cedo, para que, ao chegarem à adolescência, saibam reconhecer e enfrentar seus sentimentos com resiliência. A presença de adultos sensíveis e abertos ao diálogo pode salvar vidas, oferecendo às crianças a oportunidade de pedir ajuda antes que seja tarde demais.

Onde Buscar Ajuda
Se você conhece uma criança ou adolescente que está em sofrimento emocional ou apresenta sinais de automutilação, pensamentos suicidas ou outros comportamentos de risco, não hesite em procurar ajuda profissional. A seguir, estão alguns recursos importantes para apoio em saúde mental:

Centro de Valorização da Vida (CVV): Ligue 188 ou acesse cvv.org.br para atendimento gratuito e sigiloso.
Mapa da Saúde Mental: Uma lista de locais com atendimento voluntário online e presencial, disponível em mapasaudemental.com.br.
Pode Falar: Canal de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, acessível pelo site podefalar.org.br.
Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS): Disponíveis em diversas cidades. Para encontrar o CAPS mais próximo, pesquise “CAPS” seguido pelo nome da sua cidade.
Ao conversarmos abertamente sobre esses temas e oferecermos apoio, podemos ajudar a prevenir o suicídio infantil e proporcionar às crianças e adolescentes um futuro mais saudável e seguro. Vamos juntos romper o silêncio que fere e construir uma rede de proteção para aqueles que mais precisam.

Kátia Arruda
Especialista em Sexualidade e Afetividade

Fonte: Radio Federal.

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