Investidores assimilam maior alta dos juros em quase 20 anos; Selic foi reajustada a 7,75% ao ano
SÃO PAULO – O Ibovespa futuro começou a quinta-feira (28) em queda, no dia seguinte ao término da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ainda é cedo para saber até que ponto a decisão do colegiado foi precificada pelo mercado, mas fato é que os investidores vão precisar assimilar a maior elevação da taxa básica de juros desde 2002.
As apostas que ganharam força poucos dias antes da reunião do colegiado foram acertadas e a Selic subiu 1,5 ponto percentual para 7,75% ao ano. No comunicado sobre a decisão, o Banco Central informou que houve uma deterioração no balanço dos riscos e deve elevar a taxa com a mesma intensidade no próximo encontro do Copom em dezembro, o último do ano. Assim sendo, 2021 pode terminar com os juros básicos da economia a 9,25% ao ano.
“Entendo que parte do mercado vai ficar ‘desagradada’, vai entender que não é uma alta suficiente para responder à deterioração da parte fiscal que ocorreu recentemente e também das pressões inflacionárias que têm se mostrado cada vez mais duradouras, persistentes e com poucos sinais de estabilização de preços adiante”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Ele explica que uma parte do mercado acredita que a alta precisava ser ainda maior para conter a escalada da inflação.
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), ainda bastante usado no reajuste de contrato de aluguel de imóveis, subiu 0,64% em outubro e veio bem acima das estimativas que apontavam avanço de 0,17%.
“O cenário base não muda com mais uma alta de 150 pontos-base (1,5 ponto percentual) para dezembro, mas o nível da Selic ao final de ciclo dependerá dos próximos dados e se haverá maior deterioração na situação fiscal”, afirma João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos.
No Congresso, a discussão sobre a PEC dos precatórios avançou pouco. Ontem os parlamentares à favor da proposta votaram pela quebra de prazo regimental, o que permite que a PEC seja incluída direto na pauta da Câmara e possa ser discutida em plenária. Porém, a votação em si não aconteceu por falta de quórum e resistência de deputados da oposição. A proposta precisa de pelo menos 308 votos favoráveis em dois turnos de votação na Câmara.
As incertezas sobre a PEC derrubaram o mercado ontem, na última hora de negociações. A Proposta de Emenda a Constituição pretende limitar o pagamento de precatórios, abrindo espaço no Orçamento para financiar uma parte do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família. O governo quer começar a pagar o benefício em dezembro, por isso há pressa para que a PEC seja aprovada o quanto antes no Congresso.
Às 9h07 (horário de Brasília) o Ibovespa futuro com vencimento em dezembro de 2021 operava em queda de 0,67% aos 107.215 pontos.
Os investidores também vão continuar acompanhando os resultados trimestrais das empresas (veja abaixo do Radar Corporativo). Hoje, Vale e Petrobras apresentam seus balanços para o terceiro trimestre após o fechamento do mercado. Até agora, os números da temporada têm sido considerados positivos, mostrando que as empresas estão saudáveis, apesar de continuarem perdendo valor de mercado por outras razões.
O dólar comercial abriu em alta e sobe 0,35% a R$ 5,574 na compra e R$ 5,575 na venda. O dólar futuro para novembro de 2021 sobe 0,76% a R$ 5,581.
Depois da decisão do Copom, os juros futuros sobem forte na curva mais longa. O DI para janeiro de 2023 sobe dois pontos-base, a 11,43%; DI para janeiro de 2025 sobe 22 pontos-base 11,87%; e o DI para janeiro de 2027 tinha variação positiva de 30 pontos-base, a 12,01%.
Nos Estados Unidos, o indicador mais aguardado do dia era o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que veio em alta de 2%, porém menos que o previsto. Os economistas projetavam avanço de 2,7%. Houve uma desaceleração comparada ao segundo trimestre, quando o PIB avançou 6,7%. Por outro lado, os pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram em 281 mil na semana encerrada em 23 de outubro, abaixo do previsto.
A maioria das Bolsas americanas fechou a sessão de ontem em queda, após renovarem máximas históricas por dia seguidos, repercutindo a safra positiva de balanços corporativos. Hoje, no pré-mercado, voltam a subir, enquanto o dado do PIB ainda é assimilado.
O índice Dow Jones futuro avança 0,19%; o S&P 500 futuro sobe 0,31% e o Nasdaq futuro tem alta de 0,6%.
Agora há pouco, o Banco Central Europeu anunciou que não vai mexer na sua atual política monetária, apesar das pressões inflacionárias. Em setembro, havia um sinal de que medidas de estímulos seriam reduzidas com a inflação chegando no maior nível em 13 anos. As Bolsas na Europa operam com tendências mistas. O Stoxx 600, índice que abrange empresas dos 17 setores mais relevantes do continente, avança 0,14%.
Na Ásia, as Bolsas recuaram com preocupações sobre a relação entre Estados Unidos e China. O regulador de telecomunicações americano revogou a autorização para a China Telecom operar nos EUA, trazendo temores de novas tensões entre as duas maiores economias do mundo.
Assim como o Banco Central Europeu, o Banco do Japão anunciou que decidiu manter sua política monetária inalterada, cortando sua perspectiva para PIB e inflação ao consumidor em 2021. O índice japonês Nikkei caiu 0,96%. O Hang Seng, de Hong Kong, recuou 0,28%. A Bolsa de Xangai caiu 1,23% e o índice Kospi, da Coreia, fechou em baixa de 0,19%.
Radar corporativo
Ambev (ABEV3)
A Ambev (ABEV3) reportou lucro líquido de R$ 3,712 bilhões no terceiro trimestre de 2021 (3T21). O resultado representa um crescimento de 57,4% em relação ao mesmo período de 2020.
Segundo a companhia, o resultado se deve ao o forte desempenho comercial no 3T21, atingindo os maiores volumes consolidados já registrados em um terceiro trimestre, resultando em forte crescimento da receita líquida.
Movida (MOVI3)
A Movida (MOVI3) reportou lucro líquido ajustado de R$ 259,4 milhões no terceiro trimestre de 2021 (3T21). O resultado representa um crescimento de 597% em relação ao mesmo período de 2020.
De acordo com a empresa, o desempenho foi em função principalmente da estratégia adotada pela companhia durante a pandemia de expandir e renovar sua frota, da incorporação com a CS Frotas, gerando sinergias operacionais no segmento do GTF, além do crescimento do Movida Zero Km, também no GTF, diluindo custos e elevando as margens no curto prazo.
No acumulado do ano até setembro, o lucro líquido ajustado atingiu R$ 542,8 milhões, alta de 472%.
Multiplan (MULT3)
A Multiplan (MULT3) registrou um lucro líquido de R$ 99,404 milhões no terceiro trimestre deste ano, desempenho 82,5% inferior ao reportado no mesmo período do ano passado.
Segundo a empresa, o lucro menor é resultado da venda da Diamond Tower, em julho de 2020, o que elevou a base de comparação entre os períodos.
Telefonica (VIVT3)
A Telefônica Brasil (VIVT3) lucrou R$ 1,315 bilhão no terceiro trimestre deste ano, um desempenho 8,5% acima do reportado no mesmo período do ano passado.
Segundo a empresa, o avanço da última linha do balanço se deve, principalmente, pelo crescimento da receita e pelo controle dos custos da operação.
Telefônica e Ânima Educação (ANIM3)
A Telefônica (VIVT3) comunicou a criação de uma Joint Venture com a Ânima (ANIM3) na área de educação.
Segundo comunicado, as companhias pretendem operacionalizar uma plataforma digital conjunta com cursos livres de capacitação, com foco em educação continuada e empregabilidade em áreas como, por exemplo, Tecnologia, Gestão, Negócios e Turismo.
Telefônica e Ânima pretendem deter, cada uma, 50% de participação, cujas atividades teriam previsão para início em 2022, com uma equipe própria e totalmente independente.
Odontoprev (ODPV3)
A Odontoprev (ODPV3) teve lucro líquido de R$ 97,8 milhões no terceiro trimestre de 2021, alta de 13,9% na comparação com igual período de 2020.
O Ebitda ajustado atingiu R$ 144,7 milhões no 3T21, crescimento de 8,9% em relação ao mesmo trimestre de 2020.
A receita líquida da empresa teve alta de 8,5% no 3TRI21. Assim, o indicador passou de R$ 430,3 milhões para R$ 467 milhões.
Log (LOGG3)
A Log (LOGG3) reportou nesta quarta-feira (27) seu balanço referente ao terceiro trimestre de 2021 (3TRI21), com lucro líquido de R$ 94,698 milhões, 43% a mais do que os R$ 66,242 milhões em igual período do ano passado.
Kepler Weber (KEPL3)
A Kepler Weber registrou lucro líquido de R$ 41,1 milhões no terceiro trimestre de 2021, aumento de 78,7% na comparação com igual etapa de 2020.
O Ebitda ajustado foi 64,4% maior no 3T21 no comparativo anual. O indicador saltou de R$ 38,5 milhões para R$ 63,3 milhões.
A receita líquida cresceu 63,9% no 3T21. Assim, o indicador passou de R$ 330,5 milhões para R$ 201,6 milhões.
Dexco (DXCO3)
A Dexco (DXCO3), ex-Duratex, reportou lucro líquido de R$ 255,336 milhões no terceiro trimestre de 2021 (3TRI21), mais do que o dobro (106%) do reportado no mesmo período em 2020, de R$ 123,929 milhões.
Conforme a empresa, o trimestre foi marcado por uma “bem-sucedida estratégia de aumento de preços somada à melhoria do mix em todas as divisões”, escreveu no relatório de administração.
Intelbras (INTB3)
A Intelbras (INTB3) divulgou seu balanço do terceiro trimestre de 2021 (3TRI21) com lucro líquido de R$ 88,360 milhões, recuo de 6,5% em relação ao mesmo trimestre de 2020.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) fechou em R$ 89,020 milhões, o que representa uma queda de 19,8%, na comparação com os R$ 110,969 milhões do 3TRI20.
Alliar (AALR3)
Os acionistas controladores da Alliar (AALR3) rejeitaram por unanimidade a proposta de aquisição de até 24 milhões de ações da companhia realizada pela MAM Asset Management, veículo de investimento de Nelson Tanure.
Isso porque, segundo a empresa, a proposta está desalinhada com a visão e os objetivos dos acionistas controladores, inclusive quanto ao real valor intrínseco da companhia e ao objeto parcial da proposta.
Adicionalmente, a empresa também comunicou que foi firmado um segundo aditivo ao acordo de acionistas, pelo qual outros acionistas da companhia adeririam ao referido acordo, passando as ações vinculadas a representar cerca de 52,79% das ações ordinárias de emissão da empresa.
B3 (B3SA3)
A B3 (B3SA3) informou que recebeu auto de infração da Receita Federal do Brasil questionando a amortização, para fins fiscais, no exercício de 2017, de ágio gerado pela combinação dos negócios com a Bovespa Holding, em maio de 2008.
Segundo o comunicado ao mercado, o valor total é de R$ 204,342 milhões, dos quais R$ 155,168 milhões são a título de multa sobre o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e R$ 49,173 milhões de multa sobre a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
“O lançamento fiscal compreendeu apenas as multas acima mencionadas pois a B3 apresentou saldos de prejuízo fiscal no ano-calendário de 2017, os quais foram posteriormente utilizados pela B3 entre 2019 e 2021. Com isso, diferentemente do que ocorreu nos demais anos sobre os quais houve autuações, o valor da parcela do ágio questionado relativa a 2017 (aprox. R$ 1,6 bilhão) foi integralmente abatida deste saldo de prejuízo fiscal”, afirmou a B3 no comunicado.
Petrobras (PETR3;PETR4)
A Petrobras (PETR4;PETR3) deu início a fase vinculante sobre a venda dos campos de Uruguá e Tambaú, na Bacia de Santos, no Rio de Janeiro.
A produção dos campos, no ano de 2020, foi de aproximadamente 5 mil bpd de óleo e 918 mil m3/dia de gás. A Petrobras detém 100% de participação em ambos os campos.
Por fim, a Petrobras afirmou que a operação está alinhada com a estratégia de gestão de portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, visando a maximização de valor e maior retorno à sociedade.
Rede D’or São Luiz (RDOR3)
A Rede D’or São Luiz (RDOR3) comprou o Hospital Santa Isabel, localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, por R$ 280 milhões.
O Hospital Santa Isabel é um hospital geral, que atende exclusivamente a rede particular de saúde. Ele conta 119 leitos, com capacidade para expansão de leitos adicionais.
A previsão de EBITDA para o Hospital Santa Isabel é de R$ 30 milhões para os 12 meses após o fechamento da operação, com parte da integração do mesmo com a Rede D’or São Luiz.
Vibra Energia (VBBR3)
A Dynamo e o empresário Ronaldo Cezar Coelho celebraram um acordo de acionistas para votarem juntos suas participações na Vibra Energia (VBBR3), ex-BR Distribuidora, criando um núcleo de referência dono de quase 15% do capital da empresa.
Atualmente, Coelho é o maior acionista individual da Vibra Energia, com 9,8% do capital, já a Dynamo tem participação de 4,5%.
Leilão 5G
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou ontem que 15 empresas, individualmente ou reunidas em consórcio, apresentaram propostas iniciais para adquirir lotes no leilão da quinta geração de serviços móvel (5G). As informações são do jornal Valor.
O valor econômico do leilão, marcado para próxima quinta-feira (4), está estimado em R$ 50 bilhões, de acordo com a Anatel.
Fonte: Infomoney